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Foto do escritorValdir Steuernagel

Tua vontade


Você pode escutar este episódio clicando aqui.


Olá eu sou Valdir Steuernagel e este é o podcast EntreLinhas, um podcast de histórias, orações, conversas e encontros.


Seja bem vindo a este podcast intitulado "Tua vontade".


Nessas nossas conversas, através deste podcast, nós temos dito que Jesus nos ensinasse a orar, e esse nosso pedido, para que Ele nos ensinasse a orar, caminha de mãos dadas com os discípulos. Nós aprendemos com eles a fazer esse pedido. Conhecendo a profundidade da oração na nossa vida, reconhecendo como patinamos em nosso esforço pela oração, reconhecendo que precisamos aprender de Jesus como orar. E Ele ensina. Ele ensinou. "Pai nosso que estás no céus, santificado seja o Teu nome". E, de repente, você, ao escutar o início dessa oração, continua a ora-la. Deixando com que ela possa fluir. Nós sempre de novo voltamos a essa oração porque ela é a oração da Igreja que atravessa os tempos, atravessa os diferentes grupos de cristãos. Mas ela é também uma oração, não apenas repetida, ela é uma oração na qual vamos entrando numa infindável experiência de encanto, surpresa e aprendizado. Ela é a uma oração que não se esgota no seu sentido, na sua forma de nos surpreender, no seu jeito de nos abraçar. O "Pai nosso", então, é a uma oração para ser orada, entendida, abraçada e, mais do que isso, ela é uma oração que quer roteirizar a nossa vida. Bonito isso. Uma oração para roteirizar a nossa nossa vida. Pai Nosso a quem adoramos.


Como já vimos aqui nesse podcast, Pai nosso, santificado seja o Teu nome. Pai nosso, nosso Pai e a oração continua. Seja feita a Tua vontade. Confesso que desde o último podcast (Continuei a orar) eu tenho mastigado essa expressão. Tua vontade. Seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu. A Tua vontade. Deus tem vontade! O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, fala sobre essa vontade de Deus, que é boa, ela é agradável e ela é perfeita e essa é, segundo Paulo, em Romanos 12, essa vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita ela nos desafia, convida e nos leva a uma mudança de vida. Ela nos leva a um culto racional, a um culto intencional, a um culto que abraça todas as dimensões da nossa vida. E importante perceber essa construção de palavras. Ela é uma ela é uma vontade boa. Você sabe o que é bom, né? Eu sei o que é bom. O que é bom para mim, o que é bom para você, o que é bom para o outro. Ela é agradável, ela não é uma vontade, nesse sentido, castradora. Ela é agradável. Ela não é uma lei que mata. E ela é perfeita, no sentido de que ela extrai de nós, ela promove em nós uma humanidade que glorifica a Deus. Fantástico! Por isso é importante que, quando a gente fala da vontade de Deus, a gente consiga fazer essa inter-relação entre essa vontade boa, essa vontade agradável e essa vontade perfeita. Deus tem vontade!


Aliás, a gente poderia dizer, na história das religiões os deuses tem vontade. Muitas vezes, deuses, expresso de diferente maneira no decorrer da própria história e na construção dos deuses, eles são voluntariosos. Nesse sentido a gente podia olhar para esse imaginário dos deuses e dizer: como que se dá a vontade dos deuses? E poderíamos desenhar algumas marcas, com algumas cores. Esses deuses são, nesse trabalho, na sua estética, na sua aparência, eles têm uma aparência, uma estética aduladora. Por vezes eles projetam perfeição, eles projetam grandeza, eles projetam totalidade, eles projetam infinitas possibilidades de recursos. Os deuses querem ser bonitos, fortes e musculosos, adulados. Os deuses são egoístas. A vontade dos deuses é uma vontade egoísta. Eles querem para si, eles querem ser adulados, eles querem ser reverenciados, eles querem ser reconhecidos, eles querem ser homenageados. Então, os sacrifícios, você precisa agradá-los. Os deuses requerem que sejam agradados. Adulados, foi a palavra que eu usei. Egoístas. E os deuses geram dependência. Os deuses são geradores e dependentismo. Eles querem que a gente dependa deles e que a gente os agrade continuamente. Nesse agradar continuo, a gente acaba tendo que fazer mais, mais, mais para ver se a gente consegue satisfazer a insaciabilidade egoísta dos deuses.


Esses deuses povoam a nossa cultura, nossa história, nosso imaginário. Aliás, muitas vezes esses deuses, nas suas diferentes expressões, estão presentes nas nossas famílias, nas nossas igrejas muitas vezes. E a gente se volta para essa oração de Jesus. "Seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu". A gente pergunta: mas como é a vontade de Deus? Como é a vontade de Deus das escrituras? Como é a vontade do Deus a quem nós seguimos? E é interessante porque, aliás, mais do que interessante, é fundamental que esse Deus seja totalmente diferente do imaginário dos deuses.


Veja só! Em primeiro lugar Ele não é um Deus egoísta. Ele é um Deus amoroso, Ele é um Deus para o outro, é um Deus que se dá para o outro. Essa é a marca do amor. O amor é aquele que se dá, é aquele que busca, aquele que se entrega. Deus não é um Deus egoísta. Deus é um Deus de amor que se dá para o outro. Deus é um Deus liberador. Ele não gera dependência, Ele gera liberdade. A liberdade que afirma a nossa própria vida, nossa existência, nossa humanidade. Quanto mais livres nós somos, tanto mais livres nós somos para Deus. Ou seja: Deus não quer escravos, Ele quer pessoas livres. Livres para amar, livres para adorar-Lo, livres para segui-Lo.


Terceira marca desse Deus é de que Ele é um Deus relacional. Ele é um Deus comunitário. Ele é um Deus que gosta do outro, Ele é um Deus que cria comunidade, que se revela na relacionalidade na medida em que nós, com Ele e Ele conosco, nós aprendemos a conversar e isso chega ao ponto de Jesus dizer aos seus discípulos "Eu chamo vocês de amigos". Deus é o Deus de amor que se dá para o outro. É o Deus que não está preocupado com sua estética. Aliás, a estética do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, a estética do Deus de Jesus é a Cruz.


Isaías fala sobre isso. Sobre esse Jesus que foi desfigurado, que foi desprezado, açoitado e que, nesse processo do caminho para Cruz, é que nós encontramos essa presença de Deus, que caminha para Cruz. Ele não é o deus das estátuas, é o Deus da Cruz. E, como o Deus da Cruz, é o Deus que se faz presente na criança, no pobre, do pequeno, no vulnerável.


Que fantástico! Tua vontade! Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu. A vontade desse Deus que não nos mata, que não nos escraviza, que não exige de nós cada vez mais, que, numa espécie de relação extrativistas. Não! Esse é o Deus que vem ao nosso encontro, é o Deus que proclama o seu amor por nós, é o Deus que se dá, que nos busca assim, como da linguagem bíblica, o pastor busca a ovelha perdida. E aí, é o Deus que nos chama para estar com Ele, para viver com Ele.


Importante que nessa oração, e a essa é uma das intenções da oração, é que ela não seja uma retórica vazia, que ela não seja uma performance de esquina, que ela não seja uma liturgia destituída de envolvimento de vida. Por isso, essa oração, ela nos pergunta: Quem é o nosso Deus? E como que nós deixamos com que esse Deus de Jesus Pai, de Jesus, desse Deus da oração do Pai nosso, a vontade desse Deus marque a nossa vida e marque a nossa postura na sociedade, não como uma postura egoísta, aduladora, dependentes, da estética, da aparência, mas uma postura de amor, de liberdade, de relacionalidade e de comunidades. Essa é a vontade de Deus.


Há duas imagens, e são tantas coisas que a gente podia buscar das escrituras para nos ajudar nesse desejo de dizer: "Mas o que é essa vontade de Deus?", e dizer: "Bom, Jesus disse que cumprir a vontade dele é basicamente fazer duas coisas". O que é expresso nos Evangelhos, no grande mandamento, são duas coisas: Ame o Senhor, seu Deus, de todo seu coração, de toda sua alma, de todo seu entendimento e com toda sua força e ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Essas duas atitudes de amor, para com Deus e para com o outro, não se distanciam uma da outra mas se aproximam, na medida em que se tornam realidade. Esse Deus que tem essa vontade de amor é Aquele Deus a quem nós respondemos, amando acima de todas as coisas. E esse Deus é o Deus que nós amamos, amando também o outro. Por isso que, a outra imagem que eu queria evocar para nós neste podcast é essa imagem que vem do profeta Miqueias. Quando o profeta dz: Deus já mostrou a vocês o que é bom e Deus já mostrou a vocês o que o Senhor pede de você. Está claro! Deus já mostrou! A vontade Dele não é uma vontade escondida, a quem a gente precisa oferecer algum sacrifício para nos mostrar o que Ele quer. Ele já mostrou. Ele não é o Deus do segredinho, Ele é o Deus da revelação! "Pratique a justiça", diz Deus através do profeta Miquéias. "Ame a misericórdia". "Ande humildemente com o seu Deus". Tua vontade!


A pergunta, de fato, não é que nós precisamos saber mais do que é a vontade de Deus. A pergunta é se nós temos o desejo, a vontade de cumprir-la na nossa vida. Às vezes a gente, teoricamente, até pergunta por essa vontade de Deus para fugir da obediência, para fugir da prática da vivência da realidade. Pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus. Seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu. Pratique a Justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus. Está bonito isso.


Paz seja contigo na medida em que caminhamos na vontade de Deus. "Tua vontade assim na Terra como no Céu". Ajuda-nos, Senhor, não apenas a pronunciar mas a viver aquilo que Tu nos ensinastes. A pronunciar e a viver o "Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu".



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